Boa tarde, caros leitores!
A Coluna Contraponto dessa quinzena será uma edição especial. Diferente das outras análises, onde abordo um tema atual, neste texto, irei falar do “Maranhense do Século XX”, que hoje (06/12/2019), faz 23 (vinte e três) anos de sua morte. Vamos lá…
Eterno João, o poeta do povo
João Batista do Vale, esse é o nome do cantor e compositor, mais conhecido por João do Vale, eleito o “Maranhense do Século XX”. Apesar da sua carreira brilhante, do reconhecimento nacional e das inúmeras músicas de sucesso, muitas vezes é esquecido pela maioria de seu próprio povo.
Nasceu em 11 de outubro de 1934, na cidade de Pedreiras, interior do Maranhão, filho de lavradores humildes. Aos 13 (treze) anos, mudou-se para São Luís, onde integrou o “Linda Noite”, grupo de bumba-meu-boi, para o qual compôs versos.
Passados 02 (dois) anos, partiu em jornada para o Rio de Janeiro, lugar que sempre desejou morar. No longo trajeto, pedindo carona nas boleias de caminhões, passou por diversas cidades (Teresina/PI, Fortaleza/CE, Teófilo Otoni/MG), desempenhando as mais variadas tarefas, como pedreiro, ajudante de caminhão, artista de circo e garimpeiro.
Chegando ao Rio de Janeiro, começa a trabalhar numa obra em Copacabana, como pedreiro, além de frequentar as rádios da cidade, em busca de divulgar suas músicas aos artistas da época. Por ser analfabeto, era frequentemente desprezado. Compensava a falta de leitura com um dom natural: decorava as canções e letras na cabeça.
A situação começou a mudar, quando o sanfoneiro Zé Gonzaga, irmão de Luiz Gonzaga, gravou uma música de sua autoria, “Madalena”, que deslanchou no Nordeste. Nesse período, foi apresentado à cantora Marlene, uma das rainhas do rádio, que interpretou o baião “Estrela Miúda”, fazendo sucesso instantâneo na capital fluminense.
Certa vez, após ouvir sua canção num programa de rádio, João comentou com seus colegas da obra, que aquela música era de sua autoria. Eles duvidaram e lhe disseram que o sol quente estava prejudicando seu juízo.
Pouco tempo depois, começou a se apresentar no restaurante “Zicartola”, onde veio a grande oportunidade de sua carreira: o show “Opinião” (1964), dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa. Com sua canção “Carcará”, magistralmente interpretada por Maria Betânia, obteve grande fama.
Daí pra frente, João deslanchou, apresentou-se em programas de rádio, televisão, fez trilha sonora de filmes (“Meu nome é Lampião”) e de telenovelas, como “Cordel Encantado”, da Rede Globo.
Faleceu em 06 de dezembro de 1996, há 23 (vinte e três) anos, em São Luís, vítima de um derrame cerebral. Deixou uma obra admirável, ganhou o título de “Maranhense do Século XX”, mas não o reconhecimento da sua gente, sendo muitas vezes esquecido. Seu maior trunfo foi sempre cantar as dificuldades da vida de sertanejo pobre. Jamais esqueceu as origens humildes do interior do Maranhão, com sua simplicidade e talento, conquistou o país.
João, ainda em vida, teve o orgulho de ser admirado por colegas de infância, além de vários expoentes da música popular brasileira, como Alceu Valença, Chico Buarque, Edu Lobo, Fagner, Maria Bethânia, Nara Leão, Zé Ramalho, entre outros. Até hoje, grandes nomes da MPB continuam a cantar seus sucessos, músicas imortais como “A Voz do Povo”, “Canto da Ema”, “Carcará”, “De Teresina a São Luís”, “Estrela Miúda”, “Peba na Pimenta”, “Pisa na Fulô”, etc.
Simples nas palavras e grandioso no talento, João do Vale foi eternizado pelo seu dom, reconhecido em todo Brasil e respeitado por grandes artistas. Nós, maranhenses, não podemos esquecer desse importante personagem da nossa cultura, que nos representa tanto, cantando nossas dificuldades e exaltando as origens interioranas.
É, querido João, como bem cantou em sua música “A Voz do Povo”, você foi uma “flor que o vento jogou no chão”, mas deixou “galhos”, para futuras “flores brotarem”, a morte pode até te levar, mas o teu legado “ficará boiando no ar”, como um farol cultural, como uma inspiração!
– Franklin Torres é advogado, natural de Presidente Dutra/MA.
“Eu sou a flor que o vento jogou no chão/
Mas ficou um galho/
Pra outra flor brotar/
A minha flor, o vento pode levar/
Mas o meu perfume fica boiando no ar.”
JOÃO DO VALE – A VOZ DO POVO